sexta-feira, 22 de maio de 2009

O meu olhar

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso

Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
O meu olhar, Alberto Caeiro

2 comentários:

**Gi** disse...

Mas que coisa mais linda de poesia! Quantas verdades, quanta sensibilidade! E que belo par de olhos castanhos...

Eu realmente preciso ler mais poesias :-)

Um beijo!

Anónimo disse...

...Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso...

É uma boa resposta ao namorado que só namorava se ela mudasse umas coisas.
O amor é incondicional.

Beijinho